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Dois acidentes e um milagre: a força da amizade e da fé

Às vezes, quando pedimos um milagre ou uma cura, Deus envia um amigo.

Enquanto Dan Wadsworth estava deitado no hospital, sem conseguir se mover, ele se lembrou de algo que não pensava havia anos. Sua mente voltou a um momento em uma aula de musculação no ensino médio. Ele fazia a aula para treinar futebol americano.

Mas, ao fazer exercícios para fortalecer as costas, ele não pensava em melhorar suas jogadas ou lançar a bola mais longe. “Esse aqui vai me ajudar a carregar o Jason escada acima com mais facilidade”, relembra Dan.

Jason Hokanson era seu melhor amigo, que ficou com paralisia permanente da cintura para baixo após sofrer um acidente de carro. Dan (na época com 14 anos) ia quase todos os dias visitar Jason (então com 15), enquanto o amigo passava semanas no hospital e depois quatro meses na reabilitação.

Quando Jason pôde voltar à escola, era Dan quem o carregava escada acima todos os dias. Encontros, bailes da escola, esportes — os dois faziam tudo juntos. Quando Jason quis tentar o esqui aquático adaptado, Dan o apoiou durante todo um verão, até que ele tivesse força suficiente para fazer sozinho. A amizade deles se transformou em um laço para a vida inteira.

Agora, Dan estava no hospital, com uma lesão na medula exatamente no mesmo nível da que Jason teve 32 anos antes. Embora os acidentes fossem totalmente diferentes, os danos causados nas costas de ambos eram assustadoramente semelhantes. E nunca a amizade deles foi tão importante.

“Às vezes a gente conversa sobre a pré-existência, sobre como talvez já soubéssemos o que aconteceria conosco. Talvez a gente já entendesse, e é isso que nos tornou tão próximos”, diz Jason.

Assim como Dan tinha feito por ele anos antes, Jason estava no hospital quase todas as noites, sempre pronto para compartilhar uma mensagem ou uma citação para ajudar Dan a lidar com a dor.

“A vez em que mais chorei no hospital foi durante uma das visitas do Jason, quando ele falou sobre o conceito de amizade eterna”, diz Dan. 

“Nossa amizade tem sido um milagre para me ajudar a passar por tudo isso, e talvez isso não seja falado o suficiente — o milagre de um bom amigo.”

A vida de Dan havia mudado para sempre, e Jason estava preparado para apoiá-lo todos os altos e e baixos. As vidas deles agora estão entrelaçadas de uma forma que testifica da bondade de Deus e de Seu amor por nós — um amor frequentemente mostrado por meio do dom da amizade.

Os acidentes

Dan (esquerda) e Jason (direita) no Lago Powell em 1988, antes do acidente de Jason.

Jason

Quando eram crianças, as famílias de Jason e Dan adoravam ir juntas para o Lago Powell. Numa quinta-feira no início de outubro de 1990, Dan dormiu na casa de Jason para que pudessem pegar a estrada bem cedo na manhã seguinte. Mas, em sua empolgação pela viagem, Dan escorregou na varanda pela manhã e cortou o queixo, o que significou que ele teria que ficar em casa.

A próxima vez que viu Jason foi no Hospital da Universidade de Utah, enquanto o pai de Dan impunha as mãos sobre a cabeça costurada de Jason para dar uma bênção do sacerdócio antes da cirurgia.

No caminho para o lago, a família de Jason sofreu um acidente de carro, a cerca de 55 km de Price, Utah. Jason foi arremessado para fora do carro, sofreu uma fratura no punho, cortes na cabeça e uma ruptura total da coluna. Ele foi levado de ambulância para Price, onde foi estabilizado, e depois transportado de helicóptero para o Hospital da Universidade de Utah para uma cirurgia de fusão da coluna.

O procedimento foi bem-sucedido, e nos meses seguintes, Dan esteve quase todos os dias no hospital para ver o amigo.

“Quando tínhamos 15 anos, estávamos jogando videogame no hospital, fazendo piada, empinando as cadeiras de rodas e enlouquecendo as enfermeiras”, lembra Jason daqueles dias.

“Mas quando o Dan se machucou, começamos a ter conversas mais profundas e espirituais sobre a vida. A gente falava sobre como estamos mais ligados um ao outro do que jamais imaginamos.”

Jason Hokanson (esquerda) e Dan Wadsworth (direita) após o acidente de Dan.

Dan

No dia 9 de agosto de 2022, Jason recebeu uma ligação dizendo que Dan tinha sofrido um acidente. Quando soube que o amigo estava em cirurgia, ele ficou “morrendo de medo”. Ele passou a noite inteira acordado esperando por atualizações.

No dia do acidente, Dan tinha subido no sótão de casa para pegar algo. Naquela época, ele estava “vivendo o sonho que sempre quis”. Ele e a esposa tinham quatro filhos; ele servia no bispado da ala, trabalhava com cibersegurança e havia acabado de aproveitar um verão cheio de passeios de barco — muitos deles com a família de Jason.

Lá em cima, no sótão, ele teve o cuidado de colocar tábuas para se apoiar com segurança. Mas, depois de olhar dentro de uma caixa, ele se levantou e, sem querer, deu um passo para trás fora da plataforma. Caiu de uma altura de quase quatro metros, batendo com a parte de trás da cabeça no chão de concreto da garagem. O impacto causou duas fraturas no crânio, um traumatismo craniano e uma fratura na coluna.

A filha de Dan, que geralmente fica no quarto fazendo projetos de arte, por acaso estava na cozinha quando ele caiu — e por isso chegou até ele em segundos.

“Ela segura minha cabeça, tentando estancar o sangramento. Meu outro filho, que tinha 14 anos na época, vem correndo e pergunta: ‘O que eu faço?’ Ela responde: ‘Liga pro 911.’ Aí meu outro filho chega correndo: ‘O que eu faço?’ ‘Você entra e começa a orar’”, conta Dan.

“E lá estava minha filha de 18 anos, que tem uma ansiedade bem severa — e foi ela quem assumiu o controle.”

Em menos de cinco minutos, os paramédicos chegaram à casa. A esposa de Dan, Michelle, que estava do outro lado da cidade no momento da queda, conseguiu chegar a tempo de vê-lo antes que ele fosse colocado na ambulância.

A recuperação

Dan não se lembra de mais nada depois de entrar na ambulância. Ele acordou em uma nova realidade: paralisado da cintura para baixo. E desde o início, o exemplo de Jason lhe deu esperança.

“Desde a época em que ele se machucou até o meu acidente, eu vi a vida incrível que ele teve”, diz Dan.

“Então, eu não fiquei com medo. Eu sabia que seria desafiador — não fazia ideia de quão desafiador; a gente só entende quando passa — mas conhecer o Jason, ver como a vida dele se desenrolou? A família dele? E o testemunho dele? Isso foi algo que me deu muita esperança.”

Tanto Dan quanto Jason encontram força em seus testemunhos de Jesus Cristo. Dan se lembra claramente do seu primeiro domingo no hospital, apenas cinco dias após a queda. Felizmente, as lesões cerebrais não tinham sido tão graves, mas a luz ainda lhe causava dor, então ele estava deitado no escuro quando ouviu uma batida na porta.

Era um casal de uma das alas locais, que levava o sacramento às pessoas acamadas. Dan os convidou para entrar com alegria.

“Eles cantaram um hino, e então, no escuro, me deram o sacramento. E, uau — me lembro distintamente de tomar o pão e a água e pensar nisso de uma forma totalmente diferente de tudo o que eu tinha sentido em meus 45 anos de vida”, diz Dan. 

“Eu pensava na Expiação, na Ressurreição, na fragilidade da vida e em como tudo pode acabar num instante. E como eu era sortudo e abençoado por ainda ter algum tempo. Sempre senti que tinha um testemunho bem firme… Mas agora eu tenho uma nova compreensão sobre a Ressurreição que antes eu nem conseguia imaginar.”

Como a medula espinhal de Dan havia sido comprimida e esticada, mas não rompida, havia a possibilidade de ele recuperar algum movimento e sensibilidade. 

Por isso, nos dias, semanas e meses após o acidente, muitas pessoas bem-intencionadas diziam que acreditavam que ele voltaria a andar ainda nesta vida. E embora Dan quisesse acreditar nisso, ele também precisava encarar a realidade e não se apegar ao que poderia ter sido.

Por causa Dele

Cerca de um mês depois de voltar para casa, Dan teve uma entrevista para renovar sua recomendação do templo com um membro da presidência da estaca — um homem que ele amava e que havia visitado Dan várias vezes no hospital.

“A segunda pergunta que ele fez foi: ‘Você tem um testemunho da Expiação e do papel do Salvador como seu Redentor?’ E eu comecei a chorar; eu não era de chorar antes disso. Mas estávamos ali, só nós dois, e ele disse: ‘Dan, você vai andar de novo. Seja nesta vida ou na próxima, você vai andar de novo.’ Isso, para mim, é o verdadeiro significado da frase ‘por causa Dele.’”

A esposa de Dan, Michelle, também passou por sua própria jornada espiritual enquanto esperavam para ver se ele recuperaria algum movimento. Os médicos disseram à família que, o que Dan conseguisse recuperar até completar um ano do acidente, provavelmente seria tudo o que ele teria.

Quando esse marco se aproximava, Michelle assistia a uma sessão da conferência geral em que o coro cantava “Eu Creio em Cristo”. Ao ouvir aquele hino, ela sentiu como se tivesse sido paralisada no lugar.

“Foi como se o Senhor estivesse me perguntando: ‘Você tem fé para acreditar em mim mesmo sem receber um milagre [de cura]?’”, conta Michelle.

Dan recuperou um pouco de movimento muscular em uma perna, mas nada na outra — não era o milagre que talvez esperassem — mas Michelle escolheu confiar no Senhor.

“Saber que esta vida é temporária é uma bênção enorme, saber que um dia Dan será curado e ‘perfeito’ novamente”, diz ela.

“E [saber] que tudo o que precisamos passar agora é porque temos algo a aprender, precisamos nos tornar algo diferente do que somos hoje. Cada pessoa tem seu próprio caminho de refinamento, e acho que este é o nosso.”

E mesmo que todos nós passemos por esse processo de refinamento, a vida de Michelle e Dan testifica que nunca somos chamados a enfrentá-lo sozinhos.

O milagre da amizade

Hoje, as famílias Wadsworth e Hokanson têm um amor tão forte uma pela outra que é quase palpável. Dan e Jason vivem rindo e fazendo piadas, mas também falam com facilidade e sinceridade sobre o quanto são gratos um pelo outro. 

Suas esposas são grandes amigas. A esposa de Jason, Sarah, tem sido um apoio constante para Michelle, enquanto ela se ajusta à nova realidade da família.

“Fomos abençoados tantas vezes, de tantas formas diferentes, só por tê-los sempre por perto”, diz Michelle. “Ter o Jason ali para o Dan, em maneiras que eu não podia estar. E a Sarah estar ali para mim, de jeitos que o Dan não podia, porque cada um de nós teve sua própria cura a enfrentar.”

Sarah diz que a coisa mais importante que podemos fazer como amigos é “simplesmente estar presente”. 

Seja sentando ao lado de um leito de hospital, atendendo uma ligação no meio da noite ou batendo papo na varanda, a amizade pode proporcionar os milagres de que precisamos, trazendo esperança e transformando vidas.

“Esses milagres curaram nossos corações e nos fortaleceram para suportar todas as coisas”, diz Michelle. 

“Nem sei por onde começar a descrever o quanto o apoio do Jason e da Sarah significou pra gente. Ter eles conosco nesse processo de cura foi incrivelmente edificante.”

Fonte: LDS Living

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